HUMANIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, E MODELO ECONÔMICO DO MUNDO - Por Fritjof Capra*

INTRODUÇÃO


Gostaria de começar apresentado a mim e ao meu trabalho a vocês num nível mais pessoal. Nos últimos 30 anos minha via profissional teve dois lados. Sou um cientista e sou um cientista escritor eu também trabalho como um educador ambiental e um ativista. Gostaria de lhes contar um pouco sobre ambos os lados e mostrar-lhes como eles estão inter-relacionados.
Eu fui educado como físico e fiz pesquisas em física teórica sobre energias altas nos anos 60 e 70. Desde os meus anos de aluno, eu ficava fascinado pelas mudanças dramáticas de conceitos e idéias que ocorria na física durante as três primeiras década do século XX. Em meu primeiro livro, O Tão da Física (1975) discuti a profunda mudança na nossa visão de mundo que foi oportunizada pela revolução conceitual na física – uma mudança da visão cartesiana e newtoniana para uma nova visão holística e ecológica.
Nas minhas pesquisas e escritas subseqüentes, envolvi-me numa exploração sistemática de um trema central: a mudança fundamental da visão de mundo - ou mudanças de paradigmas, como é conhecido – isto agora esta acontecendo em outras ciências e na sociedade; o desdobramento de uma nova visão da realidade e as implicações sociais desta transformação cultural.
Para conectar as mudanças conceituais na ciência com a mudança maior na visão do mundo e nos valores da sociedade eu tive que ir além da física e procurar por uma estrutura conceitual maior. Ao fazer isso percebi que nossos temas centrais maiores – saúde, educação, direitos humanos, justiça social, poder político, proteção ao meio-ambiente, modelos de gestão empresarial, a própria economia, etc - tudo tem relação com os sistemas vivos; os seres humanos, os sistemas sociais e os ecossistemas.
Percebendo isso, meu interesse em pesquisa desviou-se da física para as ciências da vida, então comecei a construir o modelo conceitual que estava procurando, usando insights da teoria dos sistemas vivos, da teoria da complexidade e da ecologia.
Simultaneamente durante os anos 80 eu envolvi-me com ativismo ambiental. Em 1984 fundei uma entidade de pensamento ecológico, chamada Instituto Elmwood e nos dez anos seguintes nos construímos uma rede de pensadores e ativistas oriundos de campos diferentes e de muitas partes do mundo. Em 1984 nos transformamos o instituto numa organização chamada “Centro para Ecobetização[1]” o qual promove “educação para uma vida sustentável” nas escolas primárias e secundárias.
Tendo trabalhado como um educador e ativista ambiental por mais de vinte anos, agora tenho muitos contatos pessoais numa rede global de ONGs – de pesquisadores, ativistas, e instituições – que forma a nova sociedade global, sobre a qual falarei posteriormente.
Fechando esta introdução, desejo lhe contar que através dos anos eu percebi mais e mais que os dois lados da minha vida profissional estão, de fato, estritamente conectados. Esta foi uma descoberta feliz, porque me permitiu continuar com meus interesses particulares como cientista e de uma forma que é totalmente consistente com meus valores, e assim manter a minha integridade pessoal.
O foco principal da minha educação e do meu ativismo ambiental é ajudar a construir e a manutenir comunidades sustentáveis – comunidades onde podemos satisfazer as nossas necessidades e aspirações sem prejudicar as gerações futuras. Para construir estas comunidades, nos podemos aprender lições valiosas a partir do estudo dos ecossistemas os quais são comunidades sustentáveis de plantas, animais e microorganismos. Assim, a questão da sustentabilidade ecológica conduz a outra questão, como os ecossistemas funcionam? Como se organizam para sustentar seu processo de vida? E esta questão, em seu turno, leva a uma outra mais genérica: como os sistemas vivos – organismos, ecossistemas e sistemas sociais – se organizam a si próprios? Em outras palavras, qual é a natureza da vida? E este é o foco de meu trabalho teórico.
Durante os últimos cinco anos desenvolvi uma estrutura conceitual que integra três dimensões da vida: a biológica, a cognitiva e a social. Eu discuto esta estrutura no meu livro mais recente chamado “As conexões ocultas”. Meu objetivo neste livro não é apenas oferecer uma visão unificada da vida, da mente e da sociedade, mas também desenvolver uma forma coerente e sistemática de manusear alguns temas críticos de nossos tempos.
O título deste livro foi tomado do discurso de Václav Ravel – escritor de peças e estadista Tcheco – no qual ele dizia “Educação hoje é a habilidade de perceber as conexões ocultas entre os fenômenos”. Em ciência referimo-nos a esta habilidade, como pensamento sistêmico ou “ pensando sistemas”. O que vale dizer, pensando em termos de relações, padrões e contexto. Através dos últimos vinte anos o pensamento sistêmico projetou-se para um novo nível, com o desenvolvimento da teoria da complexidade, tecnicamente conhecida como dinâmica não-linear. Esta é uma nova linguagem matemática e um novo conjunto de conceitos para descrever sistemas complexos não-lineares.
No meu livro valho-me do pensamento sistêmico e de alguns conceitos chaves da teoria da complexidade para desenvolver uma visão unificada da vida, da mente e da sociedade. Eu insiro a visão dos sistemas para os domínios sociais e culturais e aplico-a na interpretação de algumas das grandes questões dos nossos tempos.

metabolismo - a essência da vida

Permitam-me começar com uma pergunta muito antiga, o que é a vida? Qual a diferença entre uma pedra e uma planta, um animal e um microorganismo? Para entender a natureza da vida é preciso muito mais que entender DNA, proteínas e outras estruturas moleculares, que são os blocos construtores dos organismos vivos, porque estas estruturas também estão presentes em organismos mortos, por exemplo, em pedaços de madeiras mortos e ossos.
A diferença entre um organismo vivo e um morto assenta-se no processo básico da vida – naquilo que os sábios e poetas tem chamado de “sopro da vida” . Na linguagem científica moderna isso é chamado de “metabolismo”. Significa o fluxo ininterrupto de energia e matéria através de uma rede de reações químicas, que permite a um organismo vivo, gerar, reparar e perpetuar a si mesmo continuamente.
A compreensão do metabolismo inclui dois aspectos básicos. Um é o fluxo contínuo de energia e matéria. Todos os sistemas vivos necessitam de energia e alimento para se sustentar; e todos os sistemas vivos produzem sobras. Isto é parte do metabolismo. Mas a vida evolui de tal forma que os organismos forma comunidades, os ecossistemas, onde a sobra de uma espécie é alimento para outra, de modo que a matéria circula continuamente através do ecossistema.

redes vivas

O segundo aspecto do metabolismo é caracterizado pela rede de reações químicas que processam os alimentos e forma a base bioquímica de todas as estruturas biológicas, suas funções e comportamentos. A ênfase aqui esta na “rede”.
Uma das mais importantes percepções da compreensão sistêmica sobre a vida assenta-se no reconhecimento que as redes constituem-se no padrão básico de organização de todos os sistemas vivos. Os ecossistemas devem ser entendidos em termos de teias alimentares (i.e. rede de organismos); organismos são rede de células, órgãos e sistemas de órgãos; e as células são redes de moléculas. A rede é padrão comum a toda vida. Onde quer que vejamos vida, vemos redes.
É importante notar que estas redes vivas não são estruturas materiais, como uma rede de pesca ou uma teia de aranha. Elas são redes funcionais, redes de relação entre vários processos. Numa célula, por exemplo, estes processos são reações químicas entre as moléculas da célula. Numa cadeia alimentar, os processos são processos de alimentação, de organismos vivos comendo um ao outro. Numa rede social, são processos de comunicação. Em todos os casos a rede é um padrão de relações não-material.
Um exame mais detalhado destas redes vivas mostra-nos que a característica básica delas é que são auto-geradoras. Numa célula, por exemplo, todas as estruturas biológicas – proteínas, enzimas, o DNA, a membrana celular, etc – são continuamente produzidas, reparadas, e regeneradas pelas rede celular. Apanhando nutrientes do mundo exterior, a célula se sustenta através de uma rede de reações químicas que acontece dentro dos seus limites e produz todos os componentes da célula, incluindo aqueles que formam o próprio limite. A função de cada componente nesta rede é transformar ou substituir outros componentes, de forma que toda a cadeia continue da se reproduzir continuamente.
Similarmente no nível dos organismos multicelulares, as células estão continuamente sendo regeneradas e recicladas pela rede metabólica do organismo. As redes vivas criam e recriam continuamente a si mesma através da transformação ou substituição de seus componentes. Desta forma elas sofrem mudanças estruturais contínuas enquanto preservam seus padrões teias de organização.

redes sociais

Permita-me agora mudar dos sistemas biológicos para os sociais. A vida no reino social pode também ser entendida em termos de rede, mas aqui não lidamos com reações químicas; lidamos com comunicação. As redes vivas nas sociedades humanas são redes de comunicação. Assim como as redes biológicas, elas são autogeradoras, mas o que elas geram é, na sua grande totalidade, não-material. Cada comunicação cria pensamentos e significados, que dá oportunidade para mais comunicação e, assim, toda a rede, gera a si própria.
A dimensão do significado é crucial para compreender das redes sociais. Mesmo quando elas estruturas materiais – como mercadorias, artefatos ou artes - tais estruturas são muito diferentes daquelas produzidas pelas redes biológicas. Elas são usualmente produzidas com um propósito, de acordo com um objetivo e incorporam algum significado.
Na medida que a comunicação prossegue numa sociedade em rede, criam múltiplos círculos de feedbacks os quais, eventualmente, produzem e partilham um sistema de crenças, explicações, e valores – um contexto comum de significados, também conhecido como cultura, o qual é continuamente sustentado por mais comunicação.
Através desta cultura os indivíduos adquirem identidade como membro de um rede social e desta forma a rede gera seus próprios limites. Não se trata de um limite físico, mas um limite de expectativas, de confiabilidade e lealdade, o qual é continuamente manutenido e renegociado pela rede de comunicação.
A cultura, destarte, nasce da rede de comunicação entre os indivíduos, e produz obrigações sobre suas atitudes. Em outras palavras, as regras do comportamento que obrigam as ações dos indivíduos são produzidas e continuamente reforçadas por sua própria rede de comunicação.
A rede social também produz um corpo de conhecimento partilhado – incluindo informação, idéias e saberes- que formata as idiossincrasias da cultura em adição aos seus valores e crenças. Contudo, os valores da cultura e crenças também afetam seu próprio corpo de conhecimentos. Eles são partes da lente através da qual nos vemos o mundo.
Resumindo, as redes biológicas operam no reino da matéria, as redes sociais no reino do significado. Os sistemas biológicos trocam moléculas em suas redes de reações químicas; os sistemas sociais trocam informação e idéias em suas redes de comunicação.

dois desenvolvimentos

A análise das similaridades e das diferenças entre as redes biológica e social é central para a minha síntese da nova compreensão científica da vida, da mente e da sociedade, como também para desenvolver uma tratativa coerente e sistêmica de algumas grandes questões dos nossos tempos.
A medida que este novo século segue em frente, percebe-se dois desenvolvimentos que terão fortes impactos sobre o bem-estar e a forma de vida da humanidade. Ambos tem há ver com as redes e envolvem tecnologias radicalmente novas. Um deles é a ascensão do capitalismo global; a outra é a criação de comunidades sustentáveis baseadas na pratica de uma perspectiva ecológica. Onde quer que o capitalismo global esteja ligado a rede eletrônica de fluxo informacional e financeiro, a perspectiva ecológica esta conectada a rede ecológica de fluxo de energia e material. O objetivo da economia global, em sua presente forma, é maximizar a riqueza e o poder das elites o objetivo das perspectivas ecológicas é maximizar a sustentabilidade da teia da vida permitam me agora estas duas situações em mais detalhadamente.

redes do capitalismo global

Durante as ultimas três décadas a revolução da tecnolgia da informação fez surgir um novo tipo de capitalismo que é profundamente dirente daquele da revolução industrial ou daquele que emergiu após a segunda guerra. Tem três características fundamentais. O centro de suas atividades econômicas é global; a principal fonte da sua produtividade e competitividade é a inovação, geração de conhecimento e processamento de informação; e esta estruturado amplamente em redes de fluxo financeiro. Este novo capitalismo global também e conhecidocomo nova economia ou simplesmente globalização.
Na nova economia o capital opera em tempo real movendo-se rapidamente de uma opção para outra numa busca incessante de oportunidades de investimento. Os movimentos de cassino global operado eletronicamente não seguem nenhuma lógica de mercado os mercados são continuamente manipulados e controlados por estratégias de investimento elaborados por computadores, percepções subjetivas de analistas influentes, de eventos políticos em qualquer parte do mundo –principalmente -por turbulências inesperadas causadas por interações complexas do fluxo de capital; neste sistema altamente não-linear. Estas turbulências descontroladas têm resultado numa serie de graves crises financeiras recentemente, do México 1994, Ásia do pacifico 1997, Rússia 1998 e Brasil 1999.o impacto da nova economia sobre o bem-estar e humano tem sido altamente negativo. Tem enriquecido uma elite global de especuladores financeiros, empreendedores e profissionais high-tech. No topo tem havido acumulação de riquezas sem precedentes, o capitalismo global também tem beneficiado algumas economias nacionais especialmente países asiáticos. Mas na sua totalidade as suas conseqüências sociais e ambientais têm sido um desastre.
A ascensão do capitalismo global tem sido acompanhada pela ascensão e polarização das desigualdades sociais dentro e fora dos países, em particular a pobreza e as desigualdades sociais têm aumentado através do processo de exclusão social, o qual é uma conseqüência da estrutura em rede da nova economia. A medida que o fluxo capital e a informação interligam redes de escala mundial eles excluem destas mesmas redes todas as populações e territórios que não têm valor ou interesses para suas buscas de ganho financeiro. Como resultado certos seguimentos da sociedade, áreas das cidades, regiões e mesmo países inteiros tornam-se economicamente irrelevantes.
Assim, um novo seguimento empobrecido da humanidade emerge em volta do mundo como conseqüência direta da globalização. Isto compreende grande áreas do planeta como as áreas abaixo do Saara Africano, as áreas rurais da Ásia e da América Latina. Mas a geografia da exclusão social também inclui porções de todos os países e de todas as cidades do mundo.
Se você quer a face humana da globalização veja as fotos do conhecido foto-jornalista brasileiro Sebastião Salgado. Dois anos atrás ele completou um projeto de sete anos intitulado “Migrações” que levou-o a quarenta países em volta do mundo onde ele tirou milhares de fotos de migrantes e refugiados, mostrando seus grandes pesares e tristezas, mas também sua coragem e infinita esperança. As fotos épicas de Salgado, de um mar de humanidade sem fim, são uma impressionante testemunho da dignidade humana e do fracasso do capitalismo global.
De acordo com a doutrina da econômica da globalização conhecida como neoliberalismo os acordos de livre comércio internacional impostos pela Organização Mundial do Comércio – OMC - sobre seus países membros aumentarão o comércio global; isto criará uma expansão econômica global; e o crescimento econômico global diminuirá a pobreza, porque seus benefícios eventualmente “fluíram abaixo” para todos .
Esta afirmação esta fundamentalmente errada. O capitalismo global não mitiga a pobreza e a exclusão social; ao contrário exacerba-os. O neoliberalismo tem estado cego para este efeito porque os economistas das corporações têm tradicionalmente excluído dos seus modelos os custos sociais da atividade econômica; similarmente os economistas mais convencionais tem ignorado os custos ambientais da nova economia - o aumento e a aceleração da destruição ambiental global a qual é tão grave, se não mais, do que seu impacto social.
Uma das crenças do neoliberalismo é que os países pobres deveriam concentrar na produção de um pequeno e especial grupo de mercadorias para exportação com intuito de obter capital estrangeiro e deveriam importar grande parte das demais commodities; esta ênfase na exportação tem levado a um rápido esgotamento dos recursos naturais necessários para produzir safras a serem exportadas país após país – o desvio de água fresca para interior de fazendas; o foco sobre agricultura de consumo intensiva de água, tal como cana-de-açúcar resulta em leitos de rios secos; a conversão de terra agricultável de boa qualidade em plantações de safra para fazer dinheiro; e a migração forçada de um grande número de agricultores de suas terras. Por todo mundo, há incontáveis exemplos de como a globalização econômica esta piorando a destruição ambiental.
Desde de que o valor dominante no capitalismo global é ganhar dinheiro, seus representantes procuram eliminar legislações ambientais valendo-se da bandeira do livre comércio onde quer que possam, a não ser que se estas legislações não interferirem com seus lucros. Assim, a nova economia causa destruição ambiental não somente aumentando o impacto das suas operações sobre os ecossistemas do mundo, mas também eliminando leis de proteção ambiental nacional país após país. Em outras palavras, a destruição ambiental não é apenas um efeito colateral, mas é também uma parte intestinal do capitalismo global.

mudando o jogo

Nos últimos anos o impacto ecológico e social da globalização tem sido discutido amplamente por pensadores e lideres comunitários. Suas análises mostram que a nova economia esta produzindo uma diversidade de conseqüências danosas interconectadas – aumento da desigualdade e exclusão social, destruição da democracia, deterioração rápida e ostensiva do ambiente natural, aumento da pobreza e alienação. O novo capitalismo global tem ameaçado e destruído comunidades locais em volta do mundo e com a ajuda de uma biotecnologia mal-concebida, tem invadido a santidade da vida tentando transformar diversidade em monocultura, ecologia em engenharia e vida em commodities, tem se tornado extremamente claro que o capitalismo global na sua presente forma é insustentável e precisa ser fundamentalmente redesenhado. Na verdade, pensadores e líderes comunitários e ativistas comuns em volta do mundo estão levantando suas vozes demandando que precisamos “mudar o jogo”e estão sugerindo formas concretas de como faze-lo.
Qualquer discussão realista para mudar o jogo deve começar reconhecendo que a forma atual da globalização econômica foi projetada conscientemente e pode ser alterada. O chamado “mercado global” é, na realidade, uma rede de máquinas programadas de acordo com os princípios fundamentais de que ganhar dinheiro deveria sobrepor-se sobre os direito humanos, democracia, proteção ambiental ou qualquer outro valor. Entretanto as mesmas redes eletrônica de fluxo informacional e financeiro poderiam ter outros valores embutida nelas. A questão critica não é tecnológica, mas política. Como falamos em Porto alegre “um outro mundo é possível “

uma sociedade civil global

Na virada deste século, ocorreu uma impressionante coalizão global de ONG formadas em volta de dois valores centrais - dignidade humana e sustentabilidade ecológica. Em 1999 centenas destas organizações de base conectaram-se eletronicamente por vários meses para preparar ações de protestos em conjunto para o encontro da OMC em Seattle. Conhecida como “Coalizão Seattle” teve grande sucesso em perturbar o encontro da OMC e fazer co que sua visão ficasse conhecida no mundo, também teve igual sucesso em perturbar as conversações comerciais em Cancum um ano atrás . Suas ações em concertos baseadas em estratégias de rede tem permanentemente alterado o clima político em volta das questão da globalização econômica .
Desde a coalizão Seattle – ou “movimento por justiça global”, como é chamado agora - tem não apenas organizado protestos posteriores mas também propiciou três Fóruns Sociais Mundial em Porto Alegre e um na Índia; nestes encontros as ONGs propuseram um conjunto completo de políticas comerciais alternativas, incluindo propostas concretas e radicais para reestruturar as instituições financeiras globais, as quais mudariam profundamente a natureza da globalização.
Uma das principais razão porque o movimento de justiça global tem tido tanto sucesso é porque esta baseado em estratégias de rede. Como vocês conhecem bem redes - e trabalhar em rede - tem se tornado um dos principais focos de atenção em anos recentes. A internet tornou-se uma poderosa rede global de comunicação e as maiores corporações de hoje existem como uma rede de unidades menores. Redes similares existem entre as ONGs e as instituição não-lucrativas . Na verdade, trabalhar em rede tem sido uma das principais atividades das organizações políticas de base por muitos anos. Os movimentos ambientais, os movimentos pelos direitos humanos, os feministas, os movimentos pela paz e muitos outros movimentos de base política e cultural tem se organizado como rede que transcendem as fronteiras nacionais.
O Fórum Social Mundial é uma celebração do trabalho global em rede. Com o uso inteligente da internet as ONGs são capazes de partilhar informação e mobilizar seus membros com uma velocidade sem precedentes. Como resultado, as novas ONGs globais emergem como atores políticos efetivos independentes da tradição nacional ou instituições internacionais. Eles constituem-se numa nova espécie de sociedade civil global.
Para colocar um discurso político dentro de uma perspectiva sistêmica e ecológica a sociedade civil global apóia-se numa rede de pensadores, institutos de pesquisa, grupos de intelectuais, e centros de aprendizados que operam totalmente a margem das nossas instituições acadêmicas, organizações de negócios e agencias governamentais. Existem dezenas dessas organizações de pesquisas e aprendizado no mundo hoje. A característica comum entre elas é que executam suas pesquisas e ensinam dentro de uma estrutura explícita de valores centrais partilhados .
A maioria desses institutos de pesquisas são comunidades de ativistas de base e pensadores que estão engajados numa ampla variedade de projetos e campanhas. Na minha segunda palestra deverei concentrar-me em duas áreas –n agricultura e energia que são os pontos centrais para coalizões de base gigantescas e muito ativas.

[1] Tradução mais próxima possível do neologismo “ecoliteracy”.


*(PHD, Físico e teórico sobre sistemas, é um dos fundadores do Centro de Ecobetização in Berkeley. Ele é o autor de diversos bestsellers internacionais, incluído “O Tao da Física”, “A Rede da Vida”, esta fala esta baseada em seu último livro “As conexões ocultas: a ciência para uma vida sustentável”)


Trabalho apresentado no Seminário: "Humanização do Desenvolvimento Mundial"
Realizado em 21 de outubro de 2004, no Centro de Exposições Horácio Sabino Coimbra CIETEP/FIEP - Avenida Comendador Franco,1341- Curitiba/PR.
Digitado e traduzido por Bernardo Perna.

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