CÉREBRO MÚSICA E ACUPUNTURA - Parte 2

MÚSICA, ACUPUNTURA E ENDORFINAS

Desde tempos muito antigos se conhece a ação da morfina (palavra derivada do nome do deus grego do sono e dos sonhos, Morfeu). A morfina é um derivado do ópio (de onde vem o termo opióide ou opiáceo), obtida da papoula, cujas ações euforizantes e analgésicas têm sido há muito apreciadas pelos músicos e pelos médicos. Nos anos 70, raciocinou-se que o efeito neurofarmacológico da morfina só poderia existir se existissem receptores moleculares correspondentes no cérebro. Esse raciocínio lógico se confirmou: o uso de opióides radioativos identificou a presença de receptores específicos em diversas regiões cerebrais, a busca dos opióides naturais logo encontrou as encefalinas, as endorfinas e, mais recentemente, a dinorfina.

A maioria dos receptores opióides é encontrada nas áreas encefálicas relacionadas com o comportamento emocional e com a regulação do sistema nervoso autônomo como o tálamo e o sistema límbico e, mais especificamente, em regiões como a substância cinzenta periaquedutal, os núcleos da rafe e no corno dorsal da medula.

Esse fato é significativo, pois sabe-se que grande parte das drogas utilizadas em psiquiatria para tratamento dos distúrbios do comportamento e da afetividade agem modificando o teor das monoaminas cerebrais
38.

Esses hormônios promovem efeitos itensos e vitais no organismo humano, explicam uma grande quantidade de informação a respeito do funcionamento do cérebro, emoções e, atualmente, são a maior evidência nos estudos relativos ao mecanismo de ação neurofisiológico da Acupuntura e da Música.

Uma interessante evidência que demonstra a íntima relação que existe entre a Música, as endorfinas e a pele é o fato de muitos de nós sentirmos arrepios e nossos pêlos se eriçarem quando nos emocionamos com determinada música. Pois bem, este estado emocional é mediado pelas endorfinas. Para comprovar isso Avram Goldstein
35, do Addiction Research Center em Palo alto, Califórnia, e professor de farmacologia de Stanford, há muito tempo considerado um pioneiro no campo do estudo das endorfinas, ficou intrigado com os arrepios, zunidos atrás do pescoço e arrepio na espinha quando ouvimos determinadas músicas que nos envolvem emocionalmente. Todos devem se lembrar de algum episódio não só relacionado à música, mas, também, com um filme ou um livro, etc. Ele suspeita que essas sensações sejam mediadas pelas endorfinas. Para testar isso, permitiu que, experimentalmente, os sujeitos selecionassem a música que lhes proporcionasse os tais arrepios. Enquanto ouviam a música, sempre que chegavam perto de um estado emotivo, isso era assinalado e mapeado. Então foram divididos em dois grupos, em um injetaram naloxona, um antagonista da endorfina, e em outro, um placebo em uma situação duplo-cega.

O resultado encontrado foi que a naloxona bloqueava ou interrompia o estado emotivo em um grande número de indivíduos. O que sugere ser este estado musical mediado pela liberação de endorfinas em resposta à música
44.

Essa mesma experiência foi realizada para a comprovação da Acupuntura.Nesse experimento também foi utilizada a naloxona. Explicando, dessa forma, que a Acupuntura e a resposta emocional à Música são mediadas pela liberação de endorfinas, opióides endógenos derivados da morfina.

O que explicaria as naturezas soporífaras, hipnagógicas e analgésicas de determinadas Músicas e estimulante de outras ou o estado de bem-estar que se sente após uma sessão de Acupuntura.

Um aspecto interessante que denota essa inter-relação entre Música, Acupuntura e as endorfinas é o fato de inúmeros músicos, dependentes químicos, terem conseguido deixar o vício com o tratamento da Acupuntura Auricular da Dar, Margareth Paterson, médica acupunturista inglesa que utilizava um aparelho que estimulava determinados pontos nas orelhas. Músicos como Eric Clapton e Keith richards, se beneficiaram dessa técnica. O estímulo nos pontos auriculares desperta a síntese de uma grande quantidade de opióides endógenos como as endorfinas amenizando a síndrome da abstinência, dando suporte para deixar o vício. Explicando assim, o êxito da Acupuntura no tabagismo e na drogadição. Ela ameniza os problemas do vício, pois naturalmente, estimula a produção de morfina endógena amenizando os sintomas da dependência.

O conceito antigo de que determinados problemas mentais como depressão são uma diminuição dos níveis de neurotransmissores e o indivíduo está fadado a passar a vida tomando um medicamento antidepressivo com inúmeros efeitos colaterais, a longo prazo, deve ser reformulado. É evidente que em determinadas situações de risco e em quadros agudos esses medicamentos prescritos por um profissional competente obtêm bons resultados. O que se questiona é o uso indiscriminado e a falta de critério para o uso desses medicamentos que servem quase sempre para propósitos puramente mercantilistas.

As evidências sugerem que o cérebro, por meio do estímulo adequado, produz a química de que necessita. O cérebro é nutrido, de forma direta, muito mais facilmente por um estímulo usando uma via aferente sensorial como audição, visão e tato. Todas as vias são importantes para o estímulo do cérebro e para os processos de regeneração cerebral e produção de neuroquímicos.

O fato de que as endorfinas recompensam esse tipo de resposta emocional, indica que as experiências estéticas, incluindo música, arte, filosofia e percepção da beleza, são extremamente benéficas, talvez, essenciais para o crescimento emocional e intelectual e para a manutenção da saúde.

38Guyton, A. C. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro : Interamericana, 1977.
35 GRANET, M. O pensamento chinês. Rio de Janeiro : Contraponto, 1997.
44 HUTCHISON, M. Megabrain: new tools and techniques for brain growth and mind expansion. New York : Randon House, 1986.

Nenhum comentário: